Hoje em dia o hype pode ser considerado um vilão e vocês já vão saber o porquê. Antigamente, quando ainda alugávamos nossos queridos jogos, ficávamos sabendo que eram lançados apenas quando eram lançados na prateleira. Não haviam tantas informações quanto hoje, trailers, previews, promessas. Não estou reclamando das informações, mas do uso delas.
Darksiders 1 foi um grande game. War, protagonista e um dos quatro cavaleiros do apocalipse foi acusado injustamente pelo “Conselho” de ter iniciado todo o caos e dizimado a raça humana por conta própria. Então o conselho informa aos outros cavaleiros do apocalipse, Death, protagonista de Darksiders 2, Conquista e Fúria que War será culpado e condenado. Death, ao saber do fato, certo da inocência do irmão, pois é dentre os quatro cavaleiros o mais incorruptível, decide então partir em uma busca para redenção de War. Para isso ele precisa ir até o Reino Inferior, um lugar cheio de senhores malignos, que possuem poder suficiente para ajudar Death em sua busca. Sua única preocupação é salvar seu irmão custe o que custar.
A premissa é ótima, mas Darksiders 2 sofre com o hype. Hype nada mais é do que o exagero de algo, ou em marketing uma estratégia para promover alguma coisa, ideia ou um produto. E Darksiders 2 sofre com isso por culpa da própria THQ, que muito falou e pouco fez com essa série que possui um grande potencial, mas grande parte dele foi pelo ralo com a falência da publisher e com os diversos problemas do jogo. Vamos aos fatos.
A primeira coisa que chama atenção em Darksiders 2 são seus gráficos que de fato é um dos pontos mais fortes do jogo. O game começa em um ambiente gelado, muito bem desenhado, graças a Joe Madureira, que empresta seus traços para a série Darksiders que logo de cara mostra que a arte é seu forte. O gráfico de Darksiders 2 é lindo, mesmo em ambientes que tem por obrigação serem horrorosos. Pense em uma masmorra com cheiro de morte, e ao mesmo tempo bela. A arte desse jogo é algo a ser lembrado e seguido.
Death posando pra foto
A Morte e os espíritos derrotados
O cenário do game é muito bem feito
Os cenários vão do gelo ao fogo
Death pode carregar grandes armas
Mais um exemplo da bela arte do game
...Prince of Persia feelings?
Os irmãos se degladiam
Shadow os the Colossus feelings?
O menu do game
Outra coisa que chama atenção na parte visual, são as armas, escudos, proteções e tudo mais que Death pode usar. Tudo, quando equipado, muda o visual ou postura do cavaleiro e itens de ataque e defesa não faltam no jogo. São foices (nada mais correto do que a Morte usar foices certo?), martelos, machados, roupas de proteção, enfim tem pra todos os gostos. Dentre estes equipamentos, alguns podem agregar upgrades que fazem a arma ficar mais forte e com características de outra arma, como mais pontos de defesa, força, rapidez, etc. São poucas armas que possibilitam esse gerenciamento, e é uma das partes mais interessantes de se trabalhar dentro dos menus e é uma pena que os produtores não deram mais atenção para esse elemento. Fora isso, chega um momento que o jogador acumula uma grande quantidade de dinheiro, mas não encontra mais armas boas pra se vender, ou elementos de defesa. Assim o dinheiro acaba por não servir pra nada, já que as melhores armas são encontradas em baús espalhados pelo mapa ou masmorras.
A jogabilidade de Darksiders 2 segue bastante o que o gênero Hack’n Slash oferece, se parecendo muito com God of War, assim como no primeiro Darksiders, mas além disso o game também possui uma fortíssima influencia, cópia descarada ou homenagem (escolham) de Zelda na ambientação, na forma dos puzzles, das masmorras, em Despair (cavalo de Death), que possui um medidor de fôlego como possui Epona em Zelda: Ocarina of Time (mesmo ele sendo o cavalo da morte e não estando necessariamente vivo). E além destes títulos, Darksiders traz elementos de Mass Effect na forma em que os diálogos se desenrolam, com opções de resposta, e até na posição das câmeras. A diferença é que aqui os diálogos não levam a nada, pois nenhuma decisão é exigida do jogador, então você acaba por não dar muita atenção. Existe também uma influência de Shadow of the Colossus, quando o protagonista enfrenta um gigante e precisa acertar determinados pontos de seu corpo. Até os pulinhos de Mario em Mario 64 os produtores resolveram copiar. Duvida? Aperte sequencialmente o R1/RB no seu controle e veja por si mesmo.
Mas tudo bem, até aí podemos levar na boa, afinal, todo esse tipo de jogabilidade se encaixa com o que o game promete. Acontece que tudo vai por água a baixo quando Death, mais ou menos na metade do game, encontra uma arma de fogo diferente da que ele já carrega. É inacreditável ver um gameplay mudar de Hack’n Slash / RPG pra tiro em terceira pessoa “EXATAMENTE IGUAL” a Gears of War, além de trazer manadas de inimigos, fazendo clara referência a Painkiller ou Serious Sam. E o pior de tudo é que não é divertido, pois a mecânica não funciona. Tem momentos que o jogador pode ficar perdido, já que Death não pode usar suas espadas enquanto carrega estas armas maiores, e para soltá-las ele demora muito tempo. Os inimigos não sofrem quase nenhum dano se utilizarmos as armas brancas, sendo obrigatoriamente necessário o uso das armas de fogo de grande porte. Pegar influências de outros games ok, mas se perder neste processo não pode ser digno de louvor.
Mas não só de más influências vive Darksiders 2. Há uma referência ao game Portal que é muito clara nos Darksiders, mas nesse especificamente ficou engraçadíssimo. Quando Death pega o poder de criar os portais o game lhe dá um troféu escrito: “I Can has cake?”. Isto é uma referência bem feita e criativa, realmente um troféu pra quem jogou ambos os jogos.
No mais, a jogabilidade gira em torno de masmorras ou grandes mundos abertos, onde você pode andar com Despair, e apreciar o belo gráfico do game. Death vai conquistando poderes novos conforme o game evolui e um dos poderes é bastante interessante porque o personagem se transforma em uma estátua e divide sua alma em duas. As possibilidades de puzzles se multiplicam com esta habilidade pois quando você vê um buraco, pode pular com uma das almas e ver que tipo de inimigo lhe espera do outro lado. Ao perceber o perigo, basta retornar para seu corpo em local seguro.
Andar, andar e andar…
Nas masmorras talvez esteja o grande problema de Darksiders 2. São longas, com bastantes segredos, mas quase nenhum recompensa o jogador da forma que deveria. Ao final, o chefe nem sempre é um grande desafio, mesmo se jogado na dificuldade máxima, pois é apenas questão de insistência, sem contar que é necessário andar demais nos cenários e dar muitas voltas pra se chegar nestes chefes. Se você precisa andar de um local a outro com uma distância longa, além de os inimigos derrotados não voltarem, o que faz o local ficar vazio, tudo se torna muito monótono pois as músicas não ajudam em nada e com certeza você sentirá sono, muito sono. E o pior é que estas partes do jogo são as mais duradouras dentro de Darksiders 2 e pelo elemento de RPG, esse quesito deveria ser melhor trabalhado.
Já que falamos das músicas, vamos falar do som. Todos os efeitos sonoros em Darksiders 2 são muito bons, principalmente as dublagens. Boa parte da trilha sonora em momentos de ação também são legais, mas realmente faltou atenção dentro das famigeradas masmorras. Aqui o game parece tentar buscar outra influência, e acreditem, as músicas se parecem muito com as de Assassin’s Creed, com vozes femininas misturadas com algum tipo de música mais lenta, o que não funciona em Darksiders 2, pois as músicas são péssimas, não ajudam o jogador a pensar, a não ser em abaixar o volume. Uma pena.
Agora, tudo poderia ser salvo se Darksiders 2 tivesse um bom final como o primeiro game. Claro, não irei contar o que acontece, mas após o final de Darksiders 1, o hype (sempre ele) aumentou em 10x, e você joga a sequência na esperança que o mesmo vai acontecer, mas a história se perde, apresenta personagem descontextualizados que entram em saem sem marcar em nenhum sentido, apenas pra fazer número, e quando você espera que o game vai revelar algo, ele acaba. E não acontece rapidamente, são mais de 27 horas (sem procurar fazer qualquer side quests) com pouca diversão. A diversão se resume no combate e nos cenários, que são os dois pontos fortes do game, mas falha em todo resto de forma grave.
Portanto, este Darksiders é um game pra quem não aguenta mais esperar por um novo título de Hack’n Slash e não se importa com tantos problemas de narrativa, ou virou um grande fã do universo criado pela Vigil Games querendo de qualquer forma saber como este ambiente pode ser expandido. Enfim jogue sem esperar muito de Darksiders 2, pois nem mesmo a THQ sabia mais o que fazer com essa série.
Já inventaram o PS4, o Xbox One, portáteis com jogos de console e até celular com capacidade de PC. E ainda tem gente me enviando solicitação de jogos no Facebook.