Quando Ouija: O Jogo dos Espíritos fez um sucesso enorme de público, com mais $100 milhões de dólares arrecadados em bilheteria, sua sequência já era certa. Porém, a crítica destruiu o filme, com razão, já que se trata de um longa de terror que reúne um grupo de adolescentes sem carisma e não consegue nem assustar, nem criar um mundo rico o suficiente pra se dar sequência à história do filme.
Então, a Universal Pictures teve a sacada de criar tudo praticamente do zero, com o que faltou no primeiro filme em sua sequência, com uma história que se passa bem antes de tudo que vimos. Mudou diretor, elenco, pano de fundo. Só sobrou a mesma casa mal assombrada, por motivos e formas muito mais conviventes.
Clichê do bem


Na realidade, nada em Ouija: A Origem do Mal é novo. Muitas cenas são inspiradas em outros filmes de terror, com uma boa execução. O diretor Mike Flanagan, que substitui Stiles White, que foi diretor do primeiro filme e não alcançou a qualidade que se esperava do projeto, já dirigiu outros títulos que se deram bem com a crítica, como o Sono da Morte, O Espelho e Hush: A Morte Ouve. Seu último trabalho com O Sono da Morte é questionável, mas é possível ver uma evolução enorme em seu trabalho de execução das cenas, que estão muito convincentes em Ouija 2.
Muitas cenas sofrem com o cliché que assola os filmes de terror, mas apesar de não tentar inovar, tudo funciona muito bem. O roteiro também tem muita semelhança com diversas obras do terror, como Chamado, O Grito, por trazer uma criança na posição da “pessoa esquisita” do filme, mas a forma com a qual tudo acontece convence, assusta e incomoda.
Crianças do demônio


Todo filme com crianças tenebrosas são, em sua maioria, muito tenebrosos. Em Ouija 2 há um mérito enorme da atriz mirim Lulu Wilson, no papel de Doris. É muito difícil uma criança mostrar tamanha mudança em um personagem como aconteceu com Doris. A garota se mostrou deveras confortável com o papel, totalmente preparada para fortes cenas de terror.
Pra se ter uma ideia, a história de passa em 1967, onde uma mãe sofre para cuidar de suas duas filhas após a partida inesperada de seu marido. Doris é a caçula, enquanto que Paulina é a mais velha. Com foco no tabuleiro diabólico Ouija (que inclusive é produzido pela Hasbro, cuidado crianças), as coisas começam a acontecer, novamente, quando os personagens leem as regras do “jogo” e fazem tudo totalmente diferente do que deveriam. Doris, como os materiais de divulgação do filme entregam, é a personagem central, capaz de assustar com suas caras e bocas bizarras e sua fala doce, enquanto explica detalhadamente como funciona um enforcamento e suas consequências. Algo totalmente didático e apavorante.
Que cena!


Há um misto de Invocação do Mal com O Exorcista em Ouija 2 que dá muito certo. Muitas cenas onde o Mal aparece me remeteu diretamente para Invocação do Mal, mas de uma forma ainda mais perturbadora. As cenas que lembram O Exorcista são ainda melhores e mais uma vez a grande maioria destas cenas tem o mérito de Lulu Wilson e da direção do filme.
O roteiro acerta em cheio em colocar um Padre que nos deixa em dúvida sobre sua divindade, uma mãe perdida que ganha a vida de uma forma questionável e uma adolescente que vive a fase “aborrecente”. Tudo colabora para a criação de cenas que não são memoráveis, mas marcam naquele momento que você está assistindo e logo te fazem lembrar de algum filme ou série que já fez parecido. A forma como o inimigo se manifesta lembra muito o curta que originou o filme Quando as Luzes se apagam, mostrando que a produção de Ouija 2 queria por tudo que há de mais surreal nesta sequência.
Mais um ano repleto de filmes de terror


2016 é um ano que não somente vem recebendo muitos filmes de terror, como também conta com diversos longas de alta qualidade. Ouija 2 não chega a fazer parte do pelotão de ouro, como Invocação do Mal, mas chega muito perto disso, deixando uma vontade imensa de conhecermos mais daquele universo, algo que o primeiro filme de 2014 falha miseravelmente.
Ouija: Origem do Mal melhora muito e até apaga tudo que vimos de errado no primeiro filme. Trate desta sequência como algo novo, totalmente alheio a Ouija: O jogo dos Espíritos. É outra pegada, muito mais aterrorizante, convincente e honesto com o espectador. Nada é forçado e até as cenas cheias de cliché poderão te surpreender. Fãs de filmes de terror, este é mais um bom longa pra sua coleção.