Estamos chegando ao final de mais uma geração, e como sempre, pérolas vão surgindo nesta reta final. Mas The Last of Us, novo game da Sony com produção da Naughty Dog, a mesma que criou Crash Bandicoot e Uncharted, não é apenas mais uma pérola, talvez esteja mais para um divisor de águas.
The Last of Us foi demonstrado pela primeira vez na E3 2012, e logo de cara venceu como o game do evento. De lá pra cá foram muitas propagandas, poucos trailers e muitas informações guardadas em segredo, simplesmente para manter a história do jogo segura. Tudo isto porque The Last of Us não é apenas um jogo eletrônico, é uma experiência muito superior a qualquer outro até aqui, que possui como base principal os eventos que ocorrem durante todas as suas quase 20 horas e principalmente sua conclusão, e tudo isto graças a sua história surpreendente, que carrega o jogador de maneira exemplar, do primeiro minuto até os créditos. Hollywood tenta chegar neste nível com diversos filmes, mas nenhum consegue alcançar a maestria que a Naughty Dog conseguiu, sem exageros.
Joel e Ellie – personagens marcantes de The Last of Us
E não só a história é muito boa, como também todo o clima que envolve o título. Tudo começa quando algum tipo de doença começa a afetar os humanos, e Joel se vê obrigado a fugir de sua casa para algum lugar seguro, junto com seu irmão e sua filha, em meio a todo o caos que se instala no mundo. A partir daí Joel sobrevive durante 20 anos de puro caos, onde o mundo é tomado por criaturas que antes eram humanas, mas agora são algo parecido com zumbis infectados com um fungo chamado Cordyceps, que realmente existe no mundo real com o nome de Ophiocordyceps (inclusive a BBC fez um documentário sobre ele, procure no youtube, é assustador!). Em determinado momento do game Joel fica responsável por Ellie. Ele então precisa se manter vivo, mas acima de tudo mante-la viva. O por que eu me limito a dizer: jogue, pois qualquer coisa que eu diga a mais estragaria sua experiência com o game, e acredite, você precisa jogar The Last of Us.
Falar das questões técnicas do game é chover no molhado. Gráficos e sons estão excelentes, principalmente a parte sonora, que em muitos momentos me lembrou SilentHill. O responsável é Gustavo Santaolalla, argentino vencedor de dois Oscars na categoria de melhor trilha original. O som é algo tão profundo que até o silêncio é poético, mas quando os acordes aparecem tocam não só seus ouvidos, mas todos os seus sentimentos. Faz-lhe cair de joelhos diante do universo de The Last of Us. As músicas e o som no geral podem ser considerados mais um personagem do game. Temos ainda na versão brasileira a competente dublagem, com nomes de peso como Luiz Carlos Persy, como Joel, e Miriam Fisher, como Tess, e digo com total certeza que esta é a melhor dublagem já feita para um game localizado no Brasil.
Veja o vídeo com a dublagem
A jogabilidade é de um game em terceira pessoa, com elementos de tiro, exploração e principalmente stealth, mas praticamente sem nenhum tipo de exagero, trazendo os personagens para algo mais próximo de um ser humano real. Diferente de Drake, Joel não escala nada, no máximo sobe algumas escadas com ajuda de outros personagens, e acredite, isso é a parte mais legal do game.
Ver em Joel e Ellie a representatividade do ser humano é algo digno de elogios. Num momento onde os games tentam cada vez mais se parecerem com o mundo real, mas os fazem com exageros e cenas scriptadas, The Last of Us nos entrega personagens cheios de sentimentos, num mundo totalmente crível, sem tirar o controle do jogador e principalmente sem ofender seu intelecto. Demonstra através da emoção de cada personagem como aquilo é terrível e como sobreviver se torna uma tarefa cada vez mais complicada. E não é apenas escapar da morte proveniente de uma mordida de um infectado, é continuar vivendo por apenas tentar se manter humano em um mundo onde a humanidade, ou o que ela representa, quase desapareceu.
Digo isto porque apesar de The Last of Us possuir os “zumbis” com cogumelos na cabeça, efeito do Cordyceps, como os Estaladores que apesar de cegos são assustadores e totalmente perigosos (eles conseguem saber onde você está pelo barulho, reconhecendo o ambiente através de estalos que fazem com a boca, como um sonar), o maior problema para se manter vivo está nos seres humanos cruéis, que não hesitam em querer matar qualquer um por munição, comida ou água. Joel sabe disso e sempre que pode, demonstra como sobreviveu tantos anos num mundo como este, e para isto a violência se torna algo marcante na trajetória do game. Em muitos momentos a narrativa lhe faz questionar se os caminhos e atitudes tomados por Joel (e você) são os mais corretos, ou os mais humanos. E é aí que mora toda a poesia de Tha Last Of Us, algo que se sobressai sobre qualquer elemento que o tornaria um game, e acaba o tornando uma obra inesquecível.
Joel sentindo o bafo de um Estalador de perto
Mesmo que você diga: “Mas isso acontece em qualquer filme que tenha como tema o apocalipse!”. Concordo. Mas espere pra ver tudo isto construído com a narrativa e com o ambiente criado pela Naughty Dog e veja com seus próprios olhos que não há precedentes. Se você já jogou, sabe do que estou falando.
Eu poderia falar mais de Ellie, mas não. Deixarei para você que ainda não jogou descobrir o que a faz tão especial e tão acima de qualquer NPC que já existiu (desculpe Alyx – Half Life 2). Perto da parte final do jogo, isto só se reforça e espere por um dos momentos mais marcantes de todos os tempos no mundo dos games. Nunca uma cena foi tão sublime, tão mágica, mesmo que tão simples. E não estranhe se você ficar um tempo olhando o horizonte e pensando na vida de Joel, Ellie e até mesmo sua vida.
Ao terminar o game, a sensação que fica é estranha e pode mudar de jogador para jogador. Traz discussão, dúvidas e um sabor de quero mais, mesmo que possa terminar por aqui. Os créditos sobem do nada, em um momento que o jogador poderia esperar por mais, mas no exato momento que isto acontece, você começa a pensar em tudo que viu, que sentiu e vivenciou. E seu próximo impulso é jogar, descobrir e conquistar mais dentro deste universo rico. E para isso você conta com o New Game + ou com a dificuldade Sobrevivente. E faça um favor a si mesmo: comece o game no modo Difícil, pois é neste modo que a experiência é completa, que a sobrevivência tem seu valor.
Ellie demonstrando que não é apenas uma garotinha qualquer.
The Last of Us marca o início do fim desta geração brilhante, um verdadeiro abre alas para os próximos consoles e novas tecnologias. É deprimente desligar o PS3 e saber que nenhum outro game lançado para ele ou qualquer outro console, chega aos seus pés. A Naughty Dog conseguiu mais uma vez, e se coloca a frente de qualquer outra produtora como uma líder em meio a tantas outras que tentam alcançar este nível, mas se perdem diante do sucesso de seus títulos e principalmente da falta de criatividade. Esta poderia ser uma análise de um novo Uncharted, mas se trata de uma nova propriedade intelectual, mais rica que qualquer outra já vista.
E antes de concluir eu me rendo ao fato, mesmo que depois de pensar durante muito tempo, que The Last Of Us é o melhor game já produzido em toda história dos games. Ficará guardado para sempre no coração experiente deste gamer, que já jogou de tudo e, mais do que nunca, fica feliz em ver que nosso hobby preferido está se tornando algo cada vez mais especial alcançando níveis que nunca poderíamos imaginar. The Last Of Us é um marco extraordinário e inigualável e precisa ser jogado por todos, fãs ou não do PS3.
Já inventaram o PS4, o Xbox One, portáteis com jogos de console e até celular com capacidade de PC. E ainda tem gente me enviando solicitação de jogos no Facebook.