Crítica | O Chamado 3 assusta por ser tão decepcionante

Filmes de terror costumam chamar a atenção pelo desconhecido, pelo mórbido, por cenas marcantes e inesperadas. O Chamado sempre chamou a atenção por causa da Samara, uma personagem copiada por diversas outras obras e até mesmo games, onde uma pequena garotinha detém poderes sobrenaturais capazes de matar, da maneira mais horrenda possível quem cruzasse o seu caminho, e isso gerou um efeito diferenciado em diversas obras do terror, onde o gore deu lugar ao terror psicológico, gradativo.

No entanto, Samara sempre deu 7 dias para que suas vítimas pudessem se salvar, de forma indireta, desde que fizessem uma cópia da famigerada fita VHS que continha cenas bizarras, estranhas, definitivamente curiosas ao ponto de manter a pessoa de olhos grudados na tela, até que finalmente o telefone tocasse. A partir daí, tudo vira uma correria para entender o que a pequena garota de franja gigante queria da pessoa, ou se era apenas mais uma pra lista de mortos. O primeiro filme seguiu uma linha muito boa, se baseando no filme japonês que lhe deu origem, enquanto que o segundo já se perdeu de todas as formas possíveis, tentando humanizar Samara. O terceiro, que antes se chamava “Chamados” – lá fora é Rings -, mudou de nome aos 46 do segundo tempo para O Chamado 3, trazendo um trailer que mostrava que poderíamos retornar à origem do mal que o filme representa. No entanto, o trailer não poderia ser mais mentiroso.

Um começo exagerado e sem ligação com nada

Ignorando todos os personagens dos filmes anteriores, temos um começo que poderia ser frenético, se não fossem os exageros para demonstrar que Samara estava de volta e que poderia atacar em qualquer lugar. Em um avião, as cenas ocorrem com desespero, porém sem muitos elementos que nos remetam às clássicas cenas de O Chamado, como uma TV desligada pronta para funcionar sem energia elétrica.

De alguma forma, a fita amaldiçoada foi parar na mão de outras pessoas e um infeliz não sabia que precisava fazer uma cópia, gerando uma tragédia enorme. No entanto, o fato é esquecido durante os próximos atos do filme e passamos a conhecer Gabriel.

Personagens desinteressantes

Gabriel, um professor interpretado Johnny Galecki, o Leonard de Big Bang Theory – totalmente irreconhecível, mostrando que tem potencial para ser ator dramático -, vê a fita e através dele o mal começa a se espalhar. Numa tentativa de criar um elemento forte o suficiente para uma nova era na história do mundo de O Chamado, o filme renova o elenco com personagens muito fracos, partindo de um romance sem graça vivido por Julia e Holt, após o garoto partir para sua vida na faculdade e deixar seu grande amor para trás.

Após alguns eventos suspeitos, ela decide ir ao encontro do seu amado, mas acaba entrando num jogo que Gabriel inventou para descobrir mais sobre Samara, e aí o filme começa a desenvolver boas ideias. Porém, a atuação geral do longa, principalmente de Alex Roe (Holt) e Matilda Anna Ingrid Lutz (Julia) afetam diretamente a qualidade do filme. Mas a culpa não é só deles, também é do roteiro e diálogos, simples e piegas demais para o que o longa prometia. A maneira com a qual Julia entra na maldição de Samara e como ela se torna a “escolhida” é mal feito e preguiçoso. Por vezes eu percebia que a hora deles (Holt e Julia) poderia estar chegando e em nenhum momento me importei se eles iriam morrer ou não. Simplesmente não cativam.

Se aprofundando na origem de Samara

Conhecemos bastante coisas sobre Samara durante os dois primeiros filmes, mas ainda há partes da história que precisam ser aprofundadas para que O Chamado 3 exista. Nesta parte, o filme consegue adicionar bons elementos, expandindo o universo da franquia. Novos personagens ligados diretamente ao passado e presente da garota amaldiçoada e os motivos de ela ainda aterrorizar as pessoas até que colam.

Porém, tudo tem um custo. O formato de 7 dias até que as coisas aconteçam se altera drasticamente, junto com o vídeo em VHS, que se torna algo digital, passivo de ser enviado por e-mail e alastrando o mal – por isso o nome lá fora e inicialmente aqui no Brasil era “Chamados“. Para chegar até este ponto, que tem um certo potencial, o filme deixa de lado vários conceitos que traduzem o que é o Chamado e por conta disso, Samara aparece muito pouco. Existe tanto de Samara em O Chamado 3 quanto há o Jaspion nos filmes dos Trapalhões – ok, exagerado, mas real. Além disso, havia momentos que eu não sabia se estava vendo um filme da franquia O Chamado ou Premonição, com tantos eventos prontos para matar Julia.

O pior filme da franquia

O Chamado 3 é facilmente o pior dos três filmes até aqui, com muito do que representa sendo deixado de lado e com a inserção de personagens chatos e desinteressantes, que nada adicionam. O final do filme pode representar que teremos mais versões pela frente, mas a impressão que o terceiro longa deixa é que nada será mais como antes, principalmente em termos de qualidade.

Criado pensando em atualizar a franquia para os dias atuais, muitas das escolhas criativas e de roteiro colocam tudo a perder e deixam o filme chato, sem imersão alguma e com poucos momentos que valem a pena. Um grandioso desperdício.