A cada dia que passa, novos estúdios surgem na esperança de ganhar seu espaço na acirrada indústria de games com suas ideias. A Reflector Entertainment, situada no Canadá, é mais um desses novos estúdios que aspira entregar sua criatividade e inovações aos jogadores por meio de seu projeto piloto: Unknown 9: Awakening.
Estreado em 17 de outubro de 2024 nas plataformas PS5/PS4, Xbox Series/Xbox One e PC, o título é uma iniciativa ousada da Reflector com um universo expandido que, infelizmente, não saiu como esperado.
Unknown 9: Awakening apresenta um excelente conceito de combate, mas falha na execução. E essa falha permeia outras alegorias que compõem toda a experiência do jogo.
A História


No jogo, você é Haroona, uma Quaestor nascida com a capacidade de se aventurar em uma dimensão misteriosa que se sobrepõe à nossa, conhecida como Umbral. Em sua busca por um conhecimento secreto e poderoso, Haroona aprenderá a dominar sua conexão única com o Umbral, que lhe permite canalizar seus poderes para o nosso mundo.
Esse poder, porém, se torna uma maldição, e Haroona rapidamente se torna alvo dos Ascendentes, uma facção que deseja usar o Umbral para alterar o curso da história humana.
Unknown 9: Awakening foi acompanhado de um material multimídia em forma de podcast, novela e quadrinhos, que ajudaram a construir o contexto de um universo tão complexo. E essa complexidade é sentida logo ao iniciar o jogo. Como a maioria dos jogadores, me senti perdido e sem entender o que cada linha de diálogo queria transmitir durante as animações.
Personagens sem carisma e universo confuso


O que ficou claro é que, se o jogador não explorou os conteúdos anteriores ao jogo, estará em território desconhecido, e o título não se preocupa em situá-lo nesse universo. Decidindo embarcar mesmo assim, Unknown 9: Awakening oferece referências e contextos existentes, mas sem a familiaridade do jogador. Além disso, há documentos espalhados pelos cenários que tentam guiar o jogador sobre o que está acontecendo.
Personagens entram e saem sem qualquer preocupação em apresentar suas origens e motivações. O elenco próximo da protagonista, Haroona, interpretada por Anya Chalotra (a Yennefer da série The Witcher da Netflix), é esquecível e sem importância. Quanto à protagonista, infelizmente, ela não consegue dar profundidade nem relevância à narrativa. O trabalho no visual e na expressão facial dos personagens também é precário, o que prejudica a imersão na experiência.
Chega a ser frustrante ver a superficialidade dessas personagens em momentos de grande carga emocional, onde suas feições não condizem com o que está acontecendo.
Em resumo, entendo que o título é um AA com orçamento discreto, mas o risco de fazer algo ambicioso com pouco investimento acaba refletindo no que o produto Unknown 9: Awakening é.
Boas ideias ofuscadas pela má execução


Esse contexto também se aplica ao gameplay do título. Apresentando uma jogabilidade focada em furtividade e ação, Unknown 9: Awakening não faz bom uso das armas de fogo, algo que não se aplica aos inimigos. Dessa forma, o jogo coloca o jogador em constantes situações onde deve lidar com inúmeros inimigos, seja furtivamente ou no combate corpo a corpo, usando a habilidade Umbral da protagonista.
O grande destaque do gameplay de Unknown 9 é seu combate furtivo. Haroona, por meio de sua habilidade, consegue extrair o espírito/ alma dos inimigos e os derrota em cenas e coreografias empolgantes. Essas habilidades se expandem em uma árvore de progressão com foco em: Combate, Umbral e Furtividade. Cada uma dessas habilidades influencia o gameplay, tornando a abordagem furtiva a mais recomendada. Certamente, o combate furtivo é o que mais oferece variações de gameplay e possibilidades.
E o combate?


Porém, ao adotar uma abordagem mais ousada, golpear os inimigos com socos e chutes é um desafio e muitas vezes frustrante. Muito disso se deve a problemas de movimentação e de câmera. Enfrentar mais de um inimigo é uma tortura, pois o sistema de travamento de mira se desfixa sozinho durante o combate.
Além disso, Unknown 9 não oferece uma exploração satisfatória, limitando-se a coletar “anomalias umbrais” (que servem para desbloquear habilidades), documentos, colecionáveis e informações que só podem ser coletadas usando a perspectiva Umbral. Essa limitação se deve ao fato de os cenários do título não serem particularmente atraentes. De vielas a ambientes vegetativos, há pouco a explorar, pois o foco está inteiramente no combate.
Falhas na performance


Essas falhas se tornam ainda mais evidentes pela péssima performance no PS5, plataforma em que realizei esta análise. Desprovido de modos gráficos, Unknown 9: Awakening se apresenta com uma taxa de quadros de 30fps, que frequentemente não se mantém estável. Essa apresentação rígida me causou um constante desconforto visual, já que a suavidade é algo que a versão de PS5 simplesmente desconhece. Mesmo com o “Desfoque de Movimento” ativado, o problema persiste.
Em resumo, toda essa rigidez é desconfortável aos olhos e prejudica ainda mais a apresentação do jogo como um todo.
Uncharted, é você?


Deixando de lado os aspectos narrativos e de gameplay, Unknown 9: Awakening está longe de ser um primor visual. A baixa qualidade nas texturas, expressividade e polimento afastam o título de uma experiência visual contemplativa. No entanto, se há algo que me chamou a atenção, foi a direção artística. Em alguns momentos, o jogo me fez lembrar Uncharted, devido à grande ênfase em mostrar certos locais dominados pela natureza ou quando você está explorando ruínas.
Todo o senso exploratório, os constantes combates e a preocupação em apresentar paisagens fazem com que o título pareça ter se inspirado em Uncharted ao apresentar seus ambientes.
Combinar esses aspectos com a presença de um combate furtivo me fez lembrar do que Uncharted e até Tomb Raider fazem com excelência.
Mas afinal, Unknown 9: Awakening é tudo isso mesmo?
Embora o combate tenha boas intenções, Unknown 9: Awakening é marcado pela sua má performance no PS5 e uma apresentação que carece de refinamento. Para um título AA, ele está bem abaixo de outros jogos dessa natureza que chegaram ao mercado e foram bem-sucedidos.
VEREDITO: Embora o combate tenha boas intenções, Unknown 9: Awakening é marcado pela sua má performance no PS5 e uma apresentação que carece de refinamento. Para um título AA, ele está bem abaixo de outros jogos dessa natureza que chegaram ao mercado e foram bem-sucedidos. – João Antônio