O estúdio A44 ganhou notoriedade ao lançar Ashen, um game de Souls Like que impressionou muitos pela alta qualidade, especialmente considerando seu menor escopo. O sucesso de Ashen permitiu ao estúdio crescer e, com a Keppler como publisher, chegou a hora de conhecermos seu novo projeto: Flintlock: The Siege of Dawn. Apesar de seguir a linha de Ashen em termos de estilo, Flintlock é um jogo de maior escopo que vem chamando a atenção desde seu anúncio. Fizemos uma extensa cobertura do game até agora e estávamos empolgados! Mas talvez nossa empolgação tenha sido excessiva.
Recentemente, tivemos acesso a uma build de demonstração que inclui basicamente as primeiras horas de gameplay, com diversos locais para visitar, cumprindo missões principais e algumas extras. Após mais de duas horas de gameplay, devo dizer que fiquei preocupado.
A demo revela alguns problemas que não podem ser ignorados. Enquanto o mundo do jogo é visualmente impressionante e a narrativa tem potencial, a execução deixa a desejar em alguns aspectos cruciais. A jogabilidade, embora promissora, parece ainda estar em um estágio de polimento insuficiente, com mecânicas que muitas vezes se mostram imprecisas e uma IA adversária que não oferece o desafio esperado. Além disso, há uma certa repetitividade nas missões e uma falta de coesão no design de alguns níveis, o que pode comprometer a experiência a longo prazo.
Esses pontos precisam ser ajustados antes do lançamento final. A44 demonstrou potencial com Ashen e Flintlock tem todos os ingredientes para ser um grande jogo, mas é essencial que o feedback desta fase seja considerado para que o produto final alcance as expectativas geradas. Continuamos na torcida pelo sucesso do estúdio e esperamos que esses ajustes sejam feitos a tempo.
Como é o mundo deste novo jogo?
A sinopse oficial de Flintlock diz o seguinte: “A Porta do Mundo Inferior foi aberta, libertando os Deuses e seus exércitos dos Mortos. As terras de Kian estão em apuros, a Cidade do Amanhecer está à beira da destruição. Chegou a hora do exército da Coalizão revidar. Com o poder da vingança, da pólvora e da magia, embarque em uma jornada épica para derrotar os Deuses, fechar a Porta e salvar o mundo.”
Para enfrentar os deuses, jogamos com Nor, uma guerreira que enfrenta um destes deuses e se dá muito mal no começo do jogo. Após um tempo desacordada, ela encontra Enki, um ser divino que diz que pode ajudá-la a conseguir a vingança que almeja contra esses seres tão poderosos. A questão aqui é que o roteiro, as atuações e as motivações são pouco trabalhadas e passam a sensação de que não têm o peso necessário para deixar o jogador preocupado com o que Nor está em busca.
Embora o mundo do jogo seja recheado de coisas para fazer, lembrando bastante RPGs de mundo semiaberto com muitos itens escondidos e locais verticalizados para tentar alcançar, tudo me passou uma sensação de falta de inspiração. Nor pode dar dois pulos com a ajuda dos poderes de Enki e também usar uma espécie de teleporte, mas nada realmente impressiona.
Tecnicamente é bom?


Flintlock tem bons gráficos, mas nada absurdo, talvez pelo fato de ter mirado em estrear ainda na geração passada. No entanto, já vimos exemplos de games que são bons no PS4 e Xbox One e excelentes na nova geração. Aqui, o visual ficou “ok” e o cenário tem o mínimo de interação, não se destacando em quase nada. O som é bom nos efeitos especiais, mas achei a trilha sonora bem mediana. Ela não empolga, não te carrega e não passa despercebida. A melhor trilha sonora é aquela que você não percebe, mas que te faz sentir o que os produtores queriam que você sentisse em todos os momentos.
Rodamos o game em uma GeForce RTX 4080 com tudo no ultra e DLSS na qualidade máxima. Flintlock não parece pesado e tive uma experiência perfeita em 60 FPS no que diz respeito ao fluxo do jogo. Levando em conta que é um lançamento multiplataforma e multigeração, a A44 está de parabéns.
Combate, o núcleo de uma experiência Souls


Seja Souls Like ou Souls Lite, o combate é o que mais move o jogador em qualquer experiência. Flintlock vacila demais nesse aspecto. Embora Nor tenha opções interessantes de combate (usando o mesmo estilo de controle que jogos da From Software, por exemplo) e Enki traga um extra, uma nova camada nessa experiência, os movimentos de Nor e dos inimigos tornam-se engessados, duros e sem impacto algum. Você não se sente no controle. O grande segredo de um “Souls” é fazer o jogador entender que perdeu por ter feito algo errado e não por conta de alguma falha na mecânica do jogo. Assim, a vontade de continuar repetindo a batalha até vencer se torna algo prazeroso. Em Flintlock, durante o tempo que joguei, aconteceu o oposto de tudo isso.
As habilidades que Nor possui não melhoram o combate, e tudo parece incompleto ou sem criatividade. A palavra aqui talvez seja “inspiração”, pois Flintlock acaba querendo ser algo que talvez não consiga ser, e toda a experiência foi enfadonha para mim. Coisas repetitivas, atividades sem graça, inimigos esquisitos demais e nada que pudesse me fazer olhar para este lançamento como algo primoroso. O que é uma grande pena.
Level design salva?


Todos os lugares que visitei no começo do game passam a mesma sensação de tudo o que mencionei anteriormente: tudo parece apenas “ok”. Nada se destaca. O level design lembra muito o formato de God of War e talvez tenha sido essa a inspiração para gerar a experiência. No entanto, ao mesmo tempo, não convence o jogador a querer explorar todos os cantos. Muitos lugares existem apenas para oferecer um pequeno loot no final, sem combate, sem perigos e sem criatividade.
Os ambientes são bem bonitos, mas acabam sendo apenas legais de se olhar e não de se jogar.
Um alerta de insegurança


Antes de jogar Flintlock, eu tinha uma expectativa bem alta, mas ao jogar fiquei muito preocupado. Não me parece um jogo que vá conseguir seu espaço. Ainda existe tempo para algumas mudanças, no entanto, os problemas que percebo são muito enraizados na experiência que o estúdio quer que a gente tenha e não daria tempo de alterar muita coisa até o dia 18 de julho, dia que Flintlock estreará. Tomara que o acordo com o Game Pass seja o suficiente para que o projeto fique saudável, pois eu realmente me preocupo com o futuro do estúdio A44 após Flintlock, caso no lançamento as coisas não mudem tanto assim.
Enfim, pode ser que apenas eu tenha sentido tudo isso e o mundo ame Flintlock. Contudo, atualmente, eu não acredito muito nisso.